sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Encruzilhada

É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê.
(Marcelo Camelo)





- Bem, eu vou por aqui. – falou apontando o caminho à direita.
- E eu, por aqui... - disse virando-se para o lado oposto, projetando o primeiro passo.
- Espera. - e segurando o outro pelo braço, o fez virar e, estando frente a frente, olharam-se fundo nos olhos, como se fosse a última vez. E era.

Ambos sabiam que esse dia chegaria. Depois de tanto tempo caminhando juntos na mesma longa reta, a encruzilhada apresentava-se à frente deles, que teriam de seguir caminhos diferentes. Parecia que havia sido ontem que tinham se encontrado, vindos de ruas distintas. A princípio, caminhavam receosos cada um em seu lado da rua, mas não demorou até encontrarem-se no meio. Daí em diante, o percurso tornou-se, para os dois, menos solitário, menos vazio, menos escuro.
Quando um tropeçava, caía e se machucava, o outro estava ali para ajudá-lo a levantar, cuidar de suas feridas e alertá-lo para que não mais caísse. Quando o outro mostrava-se cansado, desanimado e prestes a desistir no meio da caminhada, um sempre tinha algum jeito de fazê-lo voltar a andar, de renovar o seu ânimo. E assim foram tantos bons e maus momentos, tanta coisa, tanto tudo, por tanto tempo.
Mas ambos sabiam que esse dia chegaria. E porque sabiam, não haviam se preparado para ele. Um achava que seria um pouco difícil, afinal sempre apegava-se fácil aos que cruzavam a sua jornada, mas acreditava que logo superaria. O outro já estava tão acostumado ao ir e vir de pessoas em seu caminho que julgava que não seria distinto de tantas outras separações. Porém, o momento estava ali. E era mais difícil. E tão diferente. E ainda olhavam-se profundamente, um refletido na pupila do outro.

- É realmente preciso?
- É... mas eu não quero.
- Eu também não... Mas veja, as ruas são estreitas, em cada caminho só espaço para um. - Não há outra solução...
- A não ser que...
- A não ser que?
- Nos tornemos um. Você quer?
- Tanto quanto você.

Deram-se, então, as mãos, aproximaram-se seus corpos trêmulos, envolveram-se completamente num longo abraço, deixaram seus lábios tocarem-se e, nesse instante, um adentrou o outro, suas almas se fundiram e tiveram a certeza de que sempre haviam sido um.

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