sábado, 3 de julho de 2010

Essência


(Lírios - Van Gogh)

"É como um cheiro de saudade,
que na verdade nunca vai sair de mim.
Anda comigo desde o tempo de menino,
Acompanha o meu destino.
Me faz tão feliz assim."
(Cheiro de nós - Santanna)

Ela estava sentada naqueles bancos mais altos do ônibus e nem o viu chegar. Não viu quando ele se sentou logo à sua frente. Nem percebeu quando ele colocou sua mochila no lugar vazio ao seu lado e abriu a janela, mesmo chuviscando lá fora.
Não viu nada disso, mas percebeu a sua presença quando o cheiro de folhas frescas dele encheu o ar à sua volta com a abertura da janela. Só nessa hora ela abriu os olhos. Viu o pedaço das costas dele que o banco do ônibus não impedia a visão e a parte de trás de seu cabelo. Viu que ele usava um casaco preto e, embora fosse inverno, nem estava tão frio assim. Imaginou que ele fosse friorento. Viu na base do dedo anular direito dele uma marca de bronzeado de anel. Imaginou que tivesse sido noivo por um bom tempo, mas teria acabado há pouco sua relação. Fechou os olhos e sentiu o perfume e tentou lembrar a que esse perfume recendia.
Era cheiro de calor. Também era o cheiro do som. E de luz. E de risadas.
Imaginou como ele era e nesse momento decidiu verificar. Tocou-lhe o ombro e quando ele se virou, ela o puxou para o lugar a seu lado no banco. Antes que ele falasse, ela o aproximou e o beijou na boca, abrindo os lábios dele com a sua língua. E deixou que ele fizesse o resto.
Ele a beijou de volta e subiu com sua boca em direção à orelha dela. Lambeu-a e a explorou e, entre gemidos, desceu pelo pescoço dela em direção aos seios, ao mesmo tempo em que lhe desabotoava a camisa. Lambeu-lhe os mamilos e continuou a recuar em direção ao baixo ventre, enquanto abria o zíper da calça dela. Ela continuava de olhos sôfregos fechados, arfando, até que ele enfiou o nariz ente suas pernas.
...
Ela sentiu um toque no ombro e quando olhou para o lado, uma moça jovem olhava para ela constrangida e perguntava se aquele lugar ao seu lado estava vazio e se podia sentar nele.
Só então percebeu que estava mordendo os lábios enquanto prendia as mãos entre as coxas.
Balbuciou um rápido claro, claro, já vou descer de qualquer forma. Puxou a cordinha do ônibus e olhou mais uma vez para o rapaz à sua frente e imaginou se deveria falar com ele.
Desistiu. Deixou estar.
Deixou que tudo aquilo permanecesse numa existência aérea, meio sublimada. Um pouco esparsa e um pouco nítida. Algo assim como aquilo que trouxera ele para ela. Algo como uma essência.

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