quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Paradoxo da consciência

 (O último granadeiro de Waterloo - Horace Vernet)
(Como se não fosse suficiente toda a lágrima chorada,
Nem toda a dor sentida,
Nem toda a memória repassada,
Nem toda a existência compartida...)
 “Mas não tem revolta, não. (...) Ter saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio. A esperança é um dom que eu tenho em mim.
(Era uma bricadeira - Caetano Veloso)
Muitas vezes a gente tem uma porção de verdades universais que nem questionamos. Simplesmente sabemos que elas existem. O nosso consciente aceita e pronto. Mas o inconsciente duvida. Talvez “duvida” não seja bem a palavra que melhor se encaixe na situação, mas digamos que ele leve um bom tempo para processar e v-i-s-c-e-r-a-l-i-z-a-r. Foi isso o que aconteceu com aquele garoto.
Ele amava sua parenta, talvez mais do que tudo. Mas sendo ela bem mais velha que ele, era óbvio, ele sabia, que ela iria embora desse mundo provavelmente bem antes dele. Tinha uma certeza racional de que isso iria acontecer. Seria o rumo natural da vida, do tempo, das coisas.
Um dia, chegou essa hora. Ele não sofreu tanto no momento em que ocorreu a perda. Pelo contrário, inesperadamente superou com grande facilidade. Ela tinha passado por um processo tão doloroso antes de sua partida que esse embarque para o outro lado não tinha sido surpresa, então houve para isso um processo de aceitação prévio. Isso era o que ele achava.
Mas depois de um tempo, ele entendeu que não tinha sido assim. O fato é que ele não sofrera tanto não porque ele estava preparado, mas porque ele não tinha percebido de fato o que tinha ocorrido. Ele verificou a real extensão de sua perda bem depois. Depois de meses, ele se deu conta do quanto e do que tinha perdido. Claro que já tinha computado tudo antes: os dias sem ela, as horas sem ela, a vida sem ela. Ele sem ela. Mas sentir todo o peso que isso realmente significava, sentia só a partir daquele momento.
E foi como se toda a lágrima chorada não tivesse sido suficiente.
E foi como se toda a dor sentida não tivesse sido suficiente.
E foi como se toda a memória repassada não tivesse sido suficiente.
E foi como se toda a existência conjunta vivida não tivesse sido suficiente.
E não foi.
Mas só agora a alma tinha se dado conta!
Muitas vezes a gente tem uma porção de verdades universais que nem questionamos. Simplesmente sabemos que elas existem. O nosso consciente aceita e pronto. Mas o inconsciente duvida. Digamos que, na verdade, ele leve um bom tempo para processar e visceralizar. Foi isso o que aconteceu com aquele garoto.

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