quarta-feira, 9 de junho de 2010

Boletim n° 001

“E o Príncipe, respondeu: Senhor, imploro teu perdão, mas não era capaz de me comunicar contigo. Fomos todos apanhados por uma tempestade (chamada por ti de “disciplina”) durante nossas excursões pelo mundo, quando estávamos todos próximos. Soube de imediato que eram teus servos observadores, embora o Senhor não os tenha me apresentado. Vi alguém cuja expressão parecia carregar a experiência de mil vidas e a vivência de mil anos. Sua sabedoria parecia guiá-lo no meio do tempo torrencial como se fosse mero chuvisco e ele foi o primeiro a sair do temporal e te encaminhar uma missiva. Vi ainda uma mulher que caminhava sobre as águas e de seus olhos jorravam fontes de dor, tristezas, memórias e alegria. Ela parecia habituada às águas, não importando quanto agressivas elas fossem. Domou a área de intempérie que a envolvia e foi a segunda a escapar dessa e a lhe mandar a escrita solicitada. Finalmente, observei uma outra mulher vestida com uma armadura que brilhava como a luz do dia. Ela tinha o rosto que lembrava uma criança, mas seus gestos eram decididos e percebi que a teimosia era uma espécie de talento seu. Andava ereta na direção contra o vento e este não parecia conseguir fustigá-la. Sua força de vontade era maior que a violência do tempo e ela parece ter saído do mau tempo, mas não sei se se perdeu no caminho, porque ela se distrai facilmente e esquece o que estava fazendo. Mas tenho certeza de que com sua constituição, ela está bem. E quanto a mim, Senhor, como bem sabes sou fraco e não possuo grandes dons. Só posso observar. Encontrei abrigo e esperei a tempestade passar. Passei meu tempo escrevendo. Lembrando o que havia visto, ouvido e sentido. Esse é o meu dever. Esse é o meu talento. Reviver o que já foi vivido, sentido e destrinchar cada fragmento de emoção sentida e a razão de todas as coisas. O que sei fazer é pensar. Tenho medo de me lançar em novas experiências amedrontadoras, não guardo muito bem o passado e também não resisto muito bem às coisas. Mas posso pensar... Os relatórios serão normalizados a partir de agora!”.

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